Eu tenho minhas restrições ideológicas (e algumas até musicais) com o chamado Ministério Diante do Trono, mas não há como negar que foi grupo da Igreja Batista da Lagoinha o responsável por sofisticar a canção cristã no Brasil, no que diz respeito às canções eclesiásticas.
A história da música gospel do Brasil é longa, mas em um resumo "torto" e "curto" a canção cristã era composta por corinhos que tinham refrões harmonicamente fracos e repletos de clichês. De certa forma, o objetivo era atingido pois o propósito da música na igreja não tem nenhuma relação com a música expressa em todos os seus estilos fora das cercanias e do olhar dos cristãos.
Na década de 1990, com a compra de várias rádios por empresários evangélicos ou simples especuladores do mercado gospel, o movimento cresceu em qualidade e técnica. As composições não estavam mais reservadas aos guetos e os primeiros contatos com o universo paralelo, depois de muitas críticas e surras, adquiriu mais respeito. Crentes ou não, muita gente começou a admirar a música gospel, independente da sua escolha religiosa.
O papel do Diante do Trono nesta história toda, é que, com suas canções gigantes e arranjos sinfônicos, elevou o nível de simples canções, com arranjos elaborados, grupo de coreografia, vocais bastante trabalhados e apurados. Como principal representante da banda, a compositora e vocalista Ana Paula Valadão (foto), com todo o seu carisma e melancolia. Tornou-se referência no meio e ganhou milhares de fãs pelo Brasil inteiro.
O que se viu (e ouviu) de lá para cá, passado 20 anos da história recente da música cristã no país, é que uma enxurrada de grupos evangélicos começaram a desejar a seguir a mesma trilha de sucesso do Ministério DT. As comunidades evangélicas (febre dos anos 90) que tinham perdido um pouquinho da criatividade e novidade do final da década de 80, tiveram que renovar seu estoque de composições e foram à luta.
Sendo bem sincero, a música gospel hoje, principalmente em termos de "igreja" ainda é uma cópia de tudo que se faz nos países de muita tradição na música gospel. A onda Ron Kennoly, Michael W. Smith, Kirk Franklin, Marcos Witt veio e foi embora. Deu lugar ao Hillsongs, espécie de música pop jovem e de gente bonita, com muito violão e baladas. A música nacional cristã não tem identidade. É uma música sem cara e DNA.
Mesmo assim, reconheço que na história de "qualquer coisa" são os "starts" que dão início aos bons movimentos e surge, mesmo que timidamente, uma nova tendência da música cristã, oriunda do rock. Um rock que é menos panfletário mas não pouco eficiente e visceral.
De qualquer forma, veja aqui os vídeos na qual Ana Paula Valadão (que hoje mora nos EUA) e sua trupe apresentam-se no Domingão. Há 20 anos, isso seria impensável...
Parte I
Parte II
Só para corroborar com o que falei à respeito de "cópias", tanto o Diante do Trono quanto o Cara de Leão (conhecido aqui no Rio de Janeiro, como Projeto Vida Nova de Irajá) começaram suas discografias com faixas repletas de versões dos compositores gringos citados acima.