Me espanta a postura ética desvalorizada que parte da sociedade adotou mediante o assunto Seleção Brasileira de Vôlei x Bulgária. Me espanta, diga-se de passagem, positivamente. Justamente porque eu não acredito que ninguém - de verdade - tenha ficado indignado com a decisão de uma seleção entregar sua partida para evitar uma disputa na semifinal com Cuba e depois Espanha.
O bafafá foi do tamanho da hipocrisia de um contingente que elege - sem qualquer cerimônia - um palhaço semianalfabeto para representá-lo no Congresso Nacional. E há quem diga que na verdade essa foi uma "resposta do povo" às autoridades e políticos. Ora, se foi uma resposta, foi o anseio errado que veio às urnas, em um momento em que o país demonstra desconhecer-se. Mas vamos às redes...
Havia um regulamento e em nome de seu cumprimento usaram-se expressões fortes como esportividade, integridade e vergonha. Bernardinho teria sido voto vencido no plesbicíto que elegera a derrota como a melhor das vitórias, em busca de um grupo mais fraco e assim persistir na busca de mais um título mundial.
Alçado à perfeição por ser destemidamente técnico e valoroso em todas as suas "batalhas" (esse engradecimento semântico supervaloriza o que de forma sorrateira seria apenas uma partida de vôlei em algum lugar do mundo), Bernardinho passou a ser o próprio paradigma de êxito e sucesso esportivo. Teve inclusive quem gostaria de vê-lo dirigindo seu time de futebol mediante tantos desmandos e falcatruas conhecidas e veladas.
Um dia Cristo, no outro Barrabás. Massacrado e pouco celebrado após mais uma conquista sublime, Bernardinho assombrou os idosos e velhinas que gostariam que aquele fosse o seu netinho, honestinho, bonitinho, legalzinho e campeão...
... Mas muitas das pedras seriam aquele mesmo telhado. Muitas das lenhas acesas incendiariam aquele circo da mesma forma. Porém, o legalismo não pode ser aviltado e nem menosprezado. Ele precisa ser pontual nos julgamentos, mesmo que as marcas desta condenação façam-no menor do que todos os títulos que Bernardinho conquistara. É a hora e o momento em que decidimos através de vereditos unilaterais a legitimidade ou não de uma vontade, baseado justamente naquilo que, em tese, não faríamos.
Sem alarmismo, não é o fim do mundo para que, através do pesar se alcance o porvir da chegada. Se é para brigar por ética, que seja diariamente, sem escala de prioridades. Porque se mais um título do maior campeão brasileiro e mundial em território nacional é muito mais digno de debate do que toda a pouca vergonha secular a qual somos submetidos diariamente, então ainda precisamos de um bode expiatório para jogarmos o que nos resta da inexatidão da justiça pela qual prezamos.
Digo e repito, sem medo de ecos: não estou nem aí se Bernardinho, Giba e qualquer outro desportista deu aos filhos búlgaros a possibilidade que ele conte aos seus netos o dia em que a Terra parou. Estou preocupado mesmo com a festa de arromba que se faz na minha rua pelos vencedores a cada edição do BBB. Neste "comes e bebes", o olho que tudo vê não se assenta na mesa, mas come, em pedacinhos, a balança dos juízes.
