Pastor Feliciano Amaral - ícone de uma época que adorar era "apenas" o suficiente.
Talvez no Brasil e no mundo, estejamos contemplando, o
PIOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA MÚSICA ECLESIÁSTICA, á saber, o que chamamos vulgarmente de música gospel.
Existem ainda fervorosos musicistas do meio, que em oportunidades de retórica aguda, realçam a "evolução dos músicos evangélicos" e das condições de trabalho e distribuição de arte sacra no Brasil. Furada é discutir contra fatos. É certo que do ponto de vista do investimento, nunca - tecnologicamente falando - o equipamento e a maquinária para desenvolvimento do estilo foi tão adequado. Os discos mono do final da década de 70, onde orgão e voz dividiam os 4 canais das gravações das raríssimas produtoras e gravadoras evangélicas, não se comparam ás super produções que hoje movem o mercado cristão em todos os cantos do Brasil.
Do xaxado ao forró pé-de-serra, do rock cru e pesado ao brega pop, a música gospel hoje é
liberta de preconceitos e repleta de diversidade. Mais ou menos como já acontece há no mínimo 30 anos em outros países de cultura protestante plenamente enraizada na história de suas nações.
Porém, se a gente tem o "meio", a "mensagem" já se perdeu faz tempo...
A música gospel, em linhas gerais e populares, é uma das piores em seu estilo, desde a feição (composição) até aos meios de divulgação e estratégias de venda. O foco das canções quase sempre busca o novo cristão, em seu novo perfil. Ele:
- não pode "nada" sem Deus;
- precisa de um milagre;
- quer restituição do que o diabo "roubou";
- quer uma mudança metereológica pluvial que inunde sua vida de bençãos;
- adora as promessas de Deus;
- respeita o sacrifício de Cristo, mas vida eterna é um assunto "pulável";
- adora a Deus, desde que isso lhe renda algum favorecimento;
- sabe que Deus pode tudo mesmo e por isso faz pouquíssmo;
Escondida nas coreografias, arranjos lotados de pro-tools e vocais pra lá de duvidosos, as letras passam como um "detalhe" de
Carlos Alberto Parreira em sua definição sobre o gol.
A canção perdeu seu sentido e sua função
ad-eternaum: adorar a Deus. Por mais que, no discurso inflamado do "ministro" a palavra "adoração" se repita com exaustão.
E antes que alguém pense que se trata de uma questão de gosto pessoal, tal questão é séria e passa desapercebida por uma boa maioria das igrejas que desejam a maior quantidade de música possível e a menor quantidade de Palavra pregada, porque para alguns o
louvor é a mensagem pregada. Antes fosse.
Mesmo assim, todo mundo acha o grupo A e B uma
benção.
"Mas os donos da igreja foram presos por quebra de divisas"
Mas isso é perseguição.
"Mas o principal vocalista traiu a esposa com uma integrante do grupo"
Deus está disposto a perdoar.
"Eles cobram a venda de 4 mil cds para que possam aceitar o convite da igreja"
Eles vivem do ministério, precisam de sustento...
Pois é, para o que queremos, escolhemos as melhores desculpas. E deixando bem claro, que sim, existe um grupo de guerrreiros que batalham há quase 30 anos, com música de qualidade como
João Alexandre,
Guilherme Kerr,
Jorge Camargo,
Nelson Bomilcar, para citar alguns. Estes não estão nos eventos "bíblias" nas praias e parques, não são convidados para marcha para Jesus e muito menos tem seus nomes associados a outros nomes de ministros "mais consagrados".
Eu nem me engano mais. O nojo é meu e de outros críticos, não só do produto, mas da teologia. Não espero depender de nenhum dogma de qualquer cancioneiro pseudo-espiritual e mudar os paradigmas do entendimento e sobretudo da vivência diária com o próprio Deus.
Há quem substitua suas próprias vivências por experiências alheias e acabam sabendo apenas da "verdade" construída de alguns. Obviamente que existem exceções, mas, nenhuma exceção pode eliminar uma das minhas prioridades na rotina diária: andar com Deus, o Todo Poderoso.
Muitos ministros surgidos e alçados á condições de líderes, hoje são os verdadeiros "guias" eclesiásticos, aqueles, que pretensamente, são os porta-vozes de Deus para o povo. Ah, quem dera que fossem.
A massa consumista cristã já representa um excelente percentual no mercado e a retórica dos palcos é diariamente repleta de simbolismos judaicos, legalismos preciosistas e músicas ruins.
Se a música popular brasileira ainda possui pérolas que a gente fica de queixo caído, quando percebemos a riqueza, a destreza e o lirismo, no outro lado do
corner, com os braços erguidos de êxito, mas na lona, vive o levita e adorador, clone mal feito do passado, mendigo da graça do presente.